sexta-feira, 28 de maio de 2021

tag sobre o tempo

achei essa tag no blog da gabi ramalho e quis muito responder. é meio que uma forma de registrar o movimento da vida através do tempo.

dez anos atrás
ficava feliz porque my chemical romance havia lançado um álbum mas ao mesmo tempo bolada porque era ruim demais e eu não queria assumir

ia parar na diretoria porque uma funcionária da escola viu eu e meu namorado da época se pegando num cantinho qualquer como de costume

me formava no ensino médio sem a menor ideia do que fazer com a vida e morrendo de medo de me tornar uma adulta frustrada que vive para o fim de semana


cinco anos atrás
chorava numa festa junina da faculdade bebendo um vinho péssimo que paguei 11 reais e bebi sozinha (tinha gosto de tang de uva)

começava o meu primeiro estágio em jornalismo e virava amiga da minha chefe, que me dava carona e uma vez me levou pra comer sushi pra fugir do trânsito (que saudades ♥)

ia fotografar manifestações fora temer e tomar gás de pimenta na cara e pensava nossa como é ótimo ser jornalista nesse país 


dois anos atrás
pagava as parcelas dos dois shows do muse que iria em outubro

ia pro rio de janeiro com a equipe do trabalho para um evento de webseries 

me levava pra conhecer cafeteria sozinha depois do expediente toda semana


um ano atrás
chorava olhando a janela do quarto todos os dias achando que nunca mais ia ver as pessoas que eu amo

me tornava vegana e ficava ansiosa pensando no dia que a pandemia acabaria e eu jantaria na casa da mãe de algum amigo que me ofereceria comida não-vegana e eu sofreria porque não ia saber dizer não com medo de deixá-la triste ou ofendida

escrevia um livro-reportagem a.k.a. TCC


neste ano
eu e o vini terminávamos para o desespero dos amigos que projetavam todas as narrativas de amor eterno sobre a gente (perdão, rapaziada)

me mudava da cidade onde morei por quase seis anos sem dar tchau para ninguém

alugava um apartamento em são paulo e aprendia a contemplar o minimalismo imposto pela falta de grana, os livros todos pelo chão como se fosse conceito quando na verdade é só um negócio chamado pandemia que impede meu pai de vir instalar as prateleiras que ele mesmo fez


um mês atrás
achei que minha mãe fosse morrer de covid

meu medo de sair na rua triplicou e desde então não saio nem pra caminhar


ontem
descobri uma banda perfeita chamada jovem dionisio e maratonei todos seus clipes no youtube

vi uma palestra e me lasquei porque terminei de trabalhar já era noite, mas fiquei feliz porque a conversa foi super inspiradora e interessante

assisti lost in translation pela segunda vez e fiquei sem ar de tanto rir do bill murray


hoje
pedi almoço no ifood porque o vr carregou

descobri que preciso de mais uma pessoa para montar a escrivaninha que chegou há quatro dias, ou seja, não montarei

fiquei um total de cinco minutos refletindo sobre o fato de que esqueci como se beija porque faz muito tempo que não faço isso e tenho medo de parecer ridícula quando fizer novamente


neste fim de semana eu vou
beber vinho

ver algum filme repetido

varrer a casa


conheçam jovem dionisio:

quarta-feira, 26 de maio de 2021

coisas que me preenchem de vida

às vezes eu me sinto tomada de vida. sei que o último texto foi o completo oposto dessa sensação, mas como diz o famoso e atual ditado que significa tudo e nada ao mesmo tempo: é sobre isso.

e como hoje me sinto tomada de vida — o que não significa necessariamente estar bem , resolvi vir aqui compartilhar coisas que alimentam esse sentimento em mim. 


há quem ache los hermanos cafona, e realmente é, mas eu amo coisa cafona. o ponto é que algo nessa apresentação, que eles fizeram no maracanã em 2019 depois de quatro anos longe dos palcos, me dá um aconchego tão bom. dá pra ver que muita gente ali esperou muito tempo pra cantar essa música aos gritos, no meio de tantos outros gritos. algo nisso me preenche de vida. 

"(...) eu tive tudo sem saber quem era eu."


e como sofrer por amor e superar o amor sofrido também é viver, tomem aqui essa coisa perfeita do maglore (com participação do hélio flanders, dono de uma das vozes mais gostosas de ouvir), que até gal costa já cantou:


"e assim como o tempo um motor ao relento
sinto saudades já não me recordo porque (...)"


falando em hélio flanders, deixo aqui uma série de apresentações maravilhosas que ele fez no canal dele, cantando e declamando walt whitman. as letras das músicas também são poesia e se deixar comover por poesia é outra forma de se sentir viva. 



para finalizar, quero deixar coisas que salvei no instagram e que achei ou bonitas, ou engraçadas. afinal, contemplar beleza e rir também é viver.












domingo, 16 de maio de 2021

todo dia, ao acordar, eu rego um jardim sem flores

pareço fora de mim. todo dia eu acordo e faço um esforço danado pra me manter no presente. como fincar os pés no hoje, porém, se o hoje é um tempo em que não quero estar? da janela eu olho a avenida e a garganta aperta. queria viver o lá fora, mas o lá fora só existe no futuro. e o futuro nem existe.

faz meses que pareço viver em uma pequena sala de espera, como se a vida estivesse suspensa. pareço anestesiada. nesse limbo, qualquer decisão parece perigosa. então, presenteio um futuro incerto com decisões que não me sinto habilitada a tomar agora. até mesmo decidir acreditar nas coisas que sinto passou a ser motivo de desconfiança. faz tanto tempo que tô em casa que nem sei se posso confiar em mim. sentir qualquer coisa nesse momento beira entre o falso e o absurdo. duvido do riso, da tristeza, da dor. eu duvido até do amor. 

todos os dias eu fantasio sobre o que eu gostaria de viver quando tudo isso passar, torcendo para que o calor da vida sobreviva em mim, mas a verdade é que tenho medo de não saber mais viver. me apavora nadar, nadar, nadar, insistentemente, tomando doses homeopáticas de paciência, dia após dia, cheia de coisas bonitas aqui dentro e, quando finalmente cruzar a travessia, não me reconhecer mais. fico me perguntando por quantos meses os sentimentos sobrevivem dentro da gente. e temo que eles não aguentem nem vírus, nem presidente genocida, nem mesmo o tempo. 

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