segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

dois mil e vinte e dois em duas reflexões (e algumas indicações)

os últimos doze meses foram embalados em desânimo e uma total falta de perspectiva. a espera da vacina foi minha chance de imaginar um futuro; quando a vacina chegou e eu sobrevivi, colei os caquinhos com fita crepe e achei que tudo seria lindo dali pra frente. eis que veio ele: o balde de água fria. virou 2021 para o ano passado e logo no primeiro dia útil fui tomada por um vazio sem graça, que exigiu de mim uma força enorme pra levantar da cama todo santo dia.

dos poucos textos que escrevi aqui no blog nos últimos meses, teve um que começou com "este primeiro semestre passou por cima de mim igual onda grande, dessas que a gente acha que vai escapar passando por baixo". eu poderia facilmente substituir a palavra 'semestre' por 'ano', sem perda de significados.

foi difícil existir dentro da minha cabeça. foram várias as tardes me perdi em labirintos mentais exaustivos, desesperançosos. o que me ajudou a seguir em frente, além da minha teimosia, foi a companhia do meu namorado, a minha psicóloga, as aulas de yoga da pri leite e as oficinas de escrita da tayná saez. a leitura também, mas teve dia que nem ler consegui. o fato é que virei o ano me sentindo mais esperançosa e trouxe do ano passado duas reflexões, escritas no meio daquele caos mental, que gostaria de compartilhar aqui.

01. dar importância ao que está perto
tenho feito o exercício de desver a vida como uma grande epopeia de coisas distantes. resolvi transferir essa grandiosidade ao que é simples, um movimento tem me trazido paz e contentamento. me permito observar a sombra da goiabeira projetada no prédio da frente, desbotado, e noto que a existência é um acontecimento. reparo em detalhes, da joaninha pousada na tela do meu notebook à falta que sinto das conversas que eu tinha com meu avô depois do almoço ao visitá-lo. olho a poeira que cobre o móvel de madeira da sala, antes da sala da minha avó, e noto que ela sinaliza mais que a hora de limpar: mostra há história no tempo que passa. história minha, história dos que vieram antes. tudo isso, que a correria forçada dos dias faz parecer ínfimo, é muito maior. carrega potência, vida. em tempos de insatisfação fabricada sob medida, me parece urgente ver importância em coisas pequenas. não por modéstia, mas por sabê-las imensas. 


02. reparar na minha humanidade a partir do outro
mesmo sozinha eu não estou só. aqui dentro habita o mundo. palavras ouvidas no balcão da padaria se cristalizam em memória. eternizo em quem sou outras tantas presenças. o barulho do ônibus na avenida, o cheiro do alho fritando para o arroz, a maciez do cardigã de lã fina cobrindo meus braços enquanto escrevo. o outro está em mim, sou eu. deve ser por isso que quando meus avós se foram senti que um pouco de mim foi junto. não se trata de metáfora, nem outro recurso poético. "a humanidade começa nos que te rodeiam, e não exatamente em ti", um trecho de valter hugo mae que devo ter citado pelo menos umas quatro vezes em cada texto recente que escrevi. ninguém é sozinho porque ser pressupõe quem nos cerca. 


***

aproveito para deixar uma lista de livros & filmes que fizeram parte de mim nesse ano tão duro, com a intenção de que causem em vocês um pouco de boniteza também. (em breve, gravo um episódio do podcast para falar só das leituras.)
  • o lugar - annie ernaux
  • tudo em todo lugar ao mesmo tempo (trailer)
  • a pior pessoa do mundo (trailer)
  • gabo & mercedes: uma despedida - rodrigo garcía
  • o serviço de entregas da kiki (trailer)
  • o mundo desdobrável - carola saavedra
  • o grande hotel budapeste (trailer)
  • noites de lua cheia (trailer)
  • o homem ideal (trailer)
  • a triunfante - teresa cremisi

menções honrosas:
  • rever a segunda temporada de fleabag
  • ver jurassic world 3 no cinema de tela grandona que o henrique me levou

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