sexta-feira, 28 de julho de 2023

minha breve experiência no twitter

dia desses, o henrique veio com o celular até mim para mostrar a última treta do twitter: implicaram com uma produtora de conteúdo (que a gente adora) porque, veja bem, ela estava, repare, tomando uma cervejinha. zombaram do jeito como ela posou para o vídeo, argumentando ser falso, e reivindicaram, por meio de oito ou dez palavras, seu famigerado e supremo poder de julgamento-de-pequenas-causas. nem procurei, mas tenho quase certeza que rolou até 'siga o fio'. tudo isso por conta de uma cervejinha. repito, uma cervejinha.

sei lá. foi exatamente esse tipo de coisa - de gente amargurada - que me fez sair do twitter. desativei há algumas semanas e tô contando os dias para que, um mês depois, minha conta simplesmente desapareça da face da terra e minha singela participação nessa rede social se extingua. puff. jamais estive aqui.

até 2020, eu não sabia usar o twitter. não entendia como funcionava, achava o layout todo confuso e me sentia uma senhora de 103 anos olhando um microondas. quando comecei a me interessar pelo henrique e descobri que lá ele não era tão low profile como no instagram, criei uma conta. o que era pra ser só uma razão para me aproximar do meu, na época, crush se tornou um labirinto sem fim que misturava questões sociais complexas com episódios de big brother, mirabolantes embasamentos críticos onde não precisa ter embasamento algum e muito cancelamento. 

(lembro que entrei bem na época que aquela moça que tirou o siso foi massacrada porque postou que o pai havia comprado vários potes de bacio di latte para ela. rapaziada ficou fervorosa. rolou até dissertação sobre paternidade ausente.)

já naquele período eu me sentia meio confusa. comentava esse incômodo com o henrique e ele dizia 'bem-vinda ao twitter' e a gente ria. eu pensava que era só questão de costume e, por um tempo, realmente foi. quando me dei conta, havia aprendido a coreografia e tava me tornando mega reativa com coisas estupidamente banais. um monte de gente, eu inclusa, pegando experiências singulares de tweets como 'eu gosto muito desse chocolate' para comentar QUE BOM QUE VOCÊ TEM DINHEIRO PARA COMPRAR UM PORQUE EU NÃ

(...)

parece que acessei o pior do ser humano a partir de mim mesma. e nem exagero ao escrever isso. estar no twitter por quase dois anos foi uma experiência quase antropológica. entrar lá era como abrir uma porta de um cômodo com isolamento acústico e me deparar com quinhentas vozes gritando ao mesmo tempo. fechar essa porta foi um alívio. agora só ouço sons abafados.

aguentei o máximo que pude, botando na cabeça que podia estar ali apenas para ver uns memes e postar coisa bonitas, mas não compensava. twittar coisas que uma ou outra pessoa achava motivo de inspiração era me enganar. no fim das contas, não valia a pena nem falar dos livros que eu tava lendo. parece não caber poesia no twitter. você tá lá vendo um cachorrinho sendo adotado e, de repente, se depara com alguém se achando sarcastiquíssimo, bem naquela vibe she is so crazy i love her, falando bobagem. muito difícil controlar a vontade retweetar essas pessoas com um 'cara, você é muito chatinho'.

é curioso perceber que as redes sociais fazem a gente achar que a gente é muito importante quando na verdade ninguém se importa. meio que tá todo mundo tentando falar mais alto que o outro, criar uma imagem robusta de si, quase impecável. fico me perguntando porquê me embrenhei no twitter e nem sei o motivo. algo me diz que tem a ver com minha necessidade de me ver parte das coisas, quase uma forma de provar que eu também posso, ainda que esse poder seja meramente entender a sutileza da ironia de um tweet bem construído. dizer: eu vi essa piada e consigo rir junto, estou por dentro disso aí. mas cansei. de repente, me pareceu mais legal simplesmente não saber. desocupar espaços. me permitir ser mediana, por vezes medíocre. 'o que você tem a dizer sobre isso, mariany?'. nada. nem vi. 

© Meus Cafés
template feito por Maira Gall
✽ modificado por Manie ✽